A intolerância à lactose é causada pela falta ou deficiência da enzima lactase – essa enzima é responsável pela digestão da lactose (açúcar presente no leite e nos produtos lácteos). De acordo com Alana Cláudia Murillo Santos, médica do Hospital das Nações, esse processo acontece em nosso organismo assim: “A lactase digere a lactose em seus dois compostos: glicose e galactose. Posteriormente, esses dois açúcares simples (glicose e galactose) são absorvidos pelo intestino e entram na corrente sanguínea. Sem lactase, a lactose não pode ser digerida nem absorvida”, explica. “Assim, fica uma grande quantidade de lactose no intestino delgado que acaba retendo muito líquido e resulta em diarreia. Depois essa lactose chega no intestino grosso e lá é fermentada por bactérias, produzindo gases que causam flatulência, eructações, distensão (inchaço abdominal) e cólicas abdominais”, complementa.
Dra. Alana explica que não existe prevenção da intolerância à lactose, especialmente se for intolerância à lactose congênita, que por se tratar de uma forma mais grave, se manifestará já nos primeiros meses de vida. “A intolerância à lactose na sua forma mais comum, como classificado anteriormente, pode acontecer devido diminuição gradual e natural da lactose após o período da lactância. Na verdade, devemos estar atentos aos sintomas que possam surgir, e, assim procurar ajuda dos especialistas”.
Outro aspecto importante nessa temática é estabelecer a diferença entre alergia ao leite e intolerância à lactose. Como já destacado anteriormente, a intolerância à lactose é um distúrbio digestivo associado à baixa ou nenhuma produção de lactase pelo intestino delgado. Os sintomas variam de acordo com a maior ou menor quantidade de leite e derivados ingeridos. Dra. Alana explica que a alergia ao leite ocorre de outra forma: “A alergia é uma reação imunológica adversa às proteínas do leite, que se manifesta após a ingestão de uma porção, por menor que seja, de leite ou derivados. A mais comum é a alergia ao leite de vaca, que pode provocar alterações no intestino, na pele e no sistema respiratório (tosse e bronquite, por exemplo)”.
Segundo a especialista, a intolerância à lactose pode ser causada das seguintes formas: 1) Deficiência primária: que pode ser congênita ou por hipolactasia do adulto; 2)Congênita: denominada de alactasia congênita; é uma forma muito rara – causada por alterações genéticas e, assim, o bebê nasce sem capacidade de produzir lactase; 3) Por hipolactasia do adulto: Forma mais comum; Acontece uma diminuição progressiva na produção de lactase que se inicia após o período da lactância e vai evoluindo com a idade, como os demais mamíferos. É uma diminuição natural que acontece em todos os mamíferos com o aumento da idade; 4) Deficiência secundária: neste caso a produção de lactase é afetada por doenças intestinais, como diarreias agudas e crônicas, gastroenterites, giardíase, Síndrome do intestino irritável, Doença de Crohn, doença celíaca. Nestes casos, a intolerância pode ser temporária e desaparecer com o controle da doença de base.
Sintomas da intolerância à lactose
- Nas crianças: Nos pequenos os sintomas incluem diarreia e dificuldade em ganhar peso e altura (perdem peso e crescem lentamente) enquanto o leite fizer parte da dieta da criança.
- Nos adultos: Os sintomas em adultos são distensão abdominal, cólicas abdominais, diarreia, flatulência, náuseas, ruídos intestinais (tipo bolhas ou roncos) aumentados e necessidade urgente de defecar entre 30 minutos a 2 horas após ingerir alimentos contendo lactose.
Como é feito o diagnóstico da intolerância à lactose?
“O diagnóstico primeiramente se baseia em evidências clínicas a partir do reconhecimento de sintomas que ocorrem após uma pessoa consumir leite e/ou derivados, concluindo assim uma suspeita clínica de intolerância à lactose. Frente a esta primeira evidência pode ser feito um teste de exclusão alimentar. O teste de exclusão alimentar consiste em ficar um período de três a quatro semanas sem consumir laticínios. Se os sintomas desaparecem após essa retirada e retornarem posteriormente quando a pessoa volta a consumir laticínios temos um diagnóstico clínico bastante provável de Intolerância à lactose e o ideal é que se agende uma consulta com especialista”, orienta Dra. Alana.
Segundo a médica, existem testes confirmatórios que podem ser solicitados pelo especialista, mas nem sempre são necessários frente às evidências clínicas. “Por isso é bastante importante a avaliação médica frente aos sintomas para que se possa fazer avaliações e descartar outros diagnósticos”, ressalta. “Os testes laboratoriais são os mais utilizados: teste de tolerância à lactose através da curva glicêmica e o teste do H2 no ar expirado. Este último é considerado o padrão ouro”.
Como tratar a intolerância à lactose?
No caso da intolerância secundária a lactose, deve ser retirada por cerca de quatro semanas, esperando-se recuperação da mucosa do intestino neste período, pelo tratamento da doença de base. Na doença celíaca com lesão intestinal grave, pode ser necessária restrição mais prolongada.
No caso da Intolerância por hipolactasia do adulto, lembrar que:
- Não há ausência de lactase, apenas redução significativa e, portanto, a maioria dos indivíduos tolera cerca de 300 ml de leite dividido em duas tomadas.
- A restrição absoluta de leite e derivados pode levar à predisposição de osteopenia e osteoporose, pela baixa ingestão de cálcio. Além disso, a proteína láctea pode ser necessária em situações de falta de outros alimentos proteicos na dieta.
- Os queijos em geral têm baixo conteúdo de lactose e os iogurtes costumam ser mais bem tolerados, provavelmente pela presença de determinados microrganismos que facilitam a digestão.
“Assim, quando o indivíduo está muito sintomático, deve-se retirar da dieta o leite e derivados e, após melhora do quadro, é recomendado a sua reintrodução gradual de acordo com o limiar sintomático de cada indivíduo. Nesta fase, algumas medidas não farmacológicas podem auxiliar na elevação deste limiar e contribuir para adaptação à lactose, como por exemplo, a sua ingestão junto com outros alimentos, o seu fracionamento ao longo do dia e o consumo de produtos lácteos fermentados e maturados”, explica Dra. Alana.
O tratamento também envolve medidas farmacológicas como o uso de suplementos contendo a enzima lactase, que pode auxiliar na ingestão dos alimentos que contêm lactose. Outra medida farmacológica necessária é o uso de suplementação de Cálcio nos indivíduos intolerantes que não estejam ingerindo quantidade de cálcio adequada pela dieta.
DICAS IMPORTANTES NAS ESTRATÉGIAS DE TRATAMENTO DA INTOLERÂNCIA À LACTOSE
1- Teste a quantidade de leite tolerável: por exemplo, meio copo duas vezes ao dia.
2- Associe alimentos ao leite (por exemplo: pão, cereais). Eles podem diminuir os sintomas…
3- Existem leites fluidos com redução de lactose
4- Estimule a prática de ingestão de queijos.
5- Os produtos fermentados (coalhadas e iogurtes) deverão ser tentados se necessário, quando se tem intolerância total ao leite (muitos sintomas com o leite)
6- Não se trata de doença e sim de comportamento genético normal.
Cabe lembrar que atualmente, nas maiorias dos supermercados, é possível encontrar leite e produtos derivados sem lactose ou com lactose reduzida, facilitando a dieta dos intolerantes à lactose, bem como o aporte de cálcio.